quinta-feira, 1 de setembro de 2011

TAVIRA ILIMITADA – “CONTRA O RACISMO E XENOFOBIA”

O ex-Presidente da República, Jorge Sampaio foi um dos convidados para o debate do tema “Racismo, Xenofobia e Outras descriminações”, na Biblioteca Municipal Álvaro de Campos, levado a cabo pela Casa das Artes. Os outros convidados foram: Rui Tavares (Euro-deputado), embaixadores, José Cutileiro e Paul Schmit e o espanhol, Juan de Dios Ramirez-Heredia, presidente do Unión Romani Internacional. O tema chamou a atenção de muito público que encheu por completo a sala. O racismo e a xenofobia são factos com que lidamos no dia-a-dia. Eles, não representam só a diferença entre cores ou raças. Têm outros contornos que por vezes quase passam despercebidos. Se os temas apresentados por cada um dos convidados mereceram a atenção, a intervenção de Jorge Sampaio, começou com uma interrogação: - Como é que nós fazemos nesta matriz europeia que está a mudar. Como é que fazemos disto sociedades inclusivas e não exclusivas? Este é o grande desafio. Estão aí as pessoas. Há por ai dezenas de nacionalidades e deve ser totalmente apoiado e louvado o esforço do nível local para cima, porque tudo se joga no nível local, com os meios de comunicação que ais existem. Uma confrontação ao nível de uma modesta freguesia se for uma coisa séria, está no mundo inteiro passados dez minutos com as consequências que não eram à uns anos atrás. Não só felicito os organizadores pela escolha desta conferência mas também porque nós temos recentemente acontecimentos brutais, ferozes que demonstram claramente que isto está na ordem do dia. O que nós temos à nossa frente é algo que tem um conjunto de complexidades e um conjunto de causas. Tenho estado a observar quais são as posições que muitas pessoas diferentes têm tomado sobre os acontecimentos de Londres. As comunidades têm o sentimento de pertença. É preciso dizermos que um sentimento de pertença é ao mesmo tempo o sentido comum da dignidade humana. É a maneira de fugir àqueles que pretendem que a declaração universal dos direito do homem não é afinal tão universal como isso. Não há outra alternativa à mínima dignidade humana que é o grande chapéu onde a integração pode ser praticada.
Eu, tenho dito que para além do sentimento de pertença, os meios mais difíceis requerem uma atenção construtiva porque até sabemos que as pessoas mais necessitadas são aquelas que neste momento são as mais atingidas. O aumento do racismo e da xenofobia e de outras formas de descriminação no seio das sociedades é um fenómeno generalizado, que tem estado a progredir em múltiplas causas e dimensões. Por isso, apesar da diversidade das situações locais e nacionais no espaço do continente europeu e apesar da gravidade de extrema violência dos dois casos que já referi – Oslo e Londres, por exemplo – há que evitar o argumento da excepcionalidade ou incidente para aproveitarmos, com isso, fechar os olhos e escamotear a verdadeira dimensão deste problema. É bom reconhece-lo porque o racismo e xenofobia não são apenas apanágio de uma franja marginal das sociedades europeias mas começam a estar fortemente enraizadas a vários níveis, manifestando-se de diferentes formas no âmbito do aspecto político tradicional. Quem poderia dizer que sendo a Holanda, por exemplo, país de destino à quinze anos o que era nesta matéria e aquilo que é hoje. As coisas alteram-se. A incerteza sobre o futuro do outro, da religião do outro, tudo isto é de extrema complexidade e portanto é natural que haja investimento nas formas mais terríveis do ponto de vista das sociedades europeias e sublinham hoje o que é o racismo e xenofobia.
Esta tendência não se verifica apenas na escala europeia. Vem ganhando terreno com os novos populismos e extremismo. Portanto, isto é um bom investimento para certo tipo de pessoas para se dirigirem curiosamente, não a uma questão de esquerda ou direita, Muitas vezes as pessoas que são alvo de discriminação económica são nacionais desse país. São apanhadas porque lhes incutiram na cabeça que o emprego está em crise por causa daqueles senhores que agora chegaram ou que aquela violência é consequência da religião a que pertencem. E, por consequência a própria interrogação das dúvidas quanto ao projecto europeu tornam esta coisa em algo que não é nada de irónico, nem acidental, nem nenhuma sociedade está imune contra o risco da violência agravada e por consequência há a necessidade de afrontar este problema e a única referência que eu faço aos vários políticos, em geral, é que nós não podemos ter sobre isto uma atitude defensiva e recuar cada vez mais porque há muita coisa de positivo em cima da mesa.
Quem pensar que o chamado sentimento de pertença é algo que se constrói com facilidade é extremamente difícil de encontrar soluções concretas nas escolas, na habitação, no emprego, na convivência, na cultura, nos serviços de saúde. É muito difícil. É esse o padrão europeu que devemos aproximar. Isto requer uma grande dose de modéstia. Tenho a maior consideração por todos aqueles que no dia-a-dia lutam por esta sociedade de vivência. Quem pensar que isto é trigo limpo está completamente enganado. Vamos ter sérios problemas neste domínio, mas não há efectivamente outra coisa. A ideia de que somos uma fortaleza fechada, única, cristã, do ponto de vista religioso, introduzo aqui uma expressão terrível que é uma uniformidade étnica ou rácico que é ainda pior, está completamente enganado e é saber como as segundas e terceiras gerações que já não têm nada a ver com os seus países de origem, mas sim com a forma como estudam o Islão e o praticam. Senão tiverem a noção exacta da perspectiva em que querem viver, estarão perante grandes dificuldades. A verdade é que as sociedades europeias não têm conseguido tentar conter as desigualdades. Geraldo de Jesus