domingo, 5 de dezembro de 2010

Faro - Associação de Músicos: Artistas desfilam contra despejo das instalações

Várias dezenas de músicos do Algarve desfilaram este sábado em protesto silencioso pelas ruas de Faro contra uma ordem de despejo do Tribunal da capital algarvia, desencadeada pela empresa Cleber, que pretende construir um empreendimento de luxo no local de ensaio dos artistas. A medida afectará 31 bandas de música de Faro, Olhão, Loulé e Quarteira, mas também actores, dancarinos e DJ’s da região do Algarve.












O protesto, organizado pela Associação Recreativa e Cultural de Músicos (ARCM), percorreu algumas ruas da cidade em direção ao Jardim Manuel Bívar, no centro de Faro, onde os músicos recordaram o papel que têm tido na vida cultural da capital algarvia nos últimos 20 anos.
O objetivo do desfile foi sensibilizar a sociedade de que vão perder as 18 salas de ensaios e pedir mais tempo às autoridades locais para continuarem a ensaiar nas instalações da Associação Recreativa e Cultural de Músicos (ARCM), antes de acatarem a ordem judicial de despejo.
"Foi um desfile de sensibilização para o que se está a passar e mostrar que não estamos a fim de sair dali sem ter um novo espaço", afirmou Armindo Dias, sócio fundador da ARCM.
A Associação Recreativa e Cultural de Músicos recebeu a notícia da sentença do Tribunal de Faro em outubro passado. A ação de despejo foi desencadeada pela empresa Cleber - Sociedade Imobiliária, a atual dona dos armazéns onde os músicos ensaiam e que custou cerca de dois milhões de euros aos antigos proprietários.
Ainda segundo Armindo Dias, "o ex presidente da Câmara de Faro Luís Coelho, e atual presidente da Assembleia Municipal de Faro (AMF), é procurador da Cleber e um dos promotores do projeto imobiliário que prevê apartamentos de luxo com vista para a zona protegida da Ria Formosa e zona comercial num valor que ascende os 30 milhões de euros".
Assim, o sócio fundador da ARCM apelou à "intervenção do ex-presidente da Câmara de Faro" - "o senhor Luís Coelho foi autarca, é presidente da AMF e tem responsabilidade na situação. Sabia que estávamos ali quando fez este negócio e só tem de ajudar-nos a resolver o problema, associar-se a nós e fazer parte da resolução, não do problema".
Com o lema "Os Músicos ficam sem casa, inevitavelmente Faro vai ficar sem música", muitos artistas desfilaram de instrumentos em punho e em silêncio por várias ruas da cidade de Faro.
Uma das alternativas para a nova sede da ARCM, e que a autarquia de Faro colocou como hipótese, é na zona da Horta da Areia, perto da Escola de Hotelaria de Faro, junto às salinas e linhas de caminho de ferro, mas carece de validação do Parque Natural da Ria Formosa e da Administração Regional Hidrográfica (ARH) do Algarve, processo que não se compadece com a sentença de despejo.
A Associação Recreativa e Cultural de Músicos recorda que é “um exemplo único de associativismo que cria condições à liberdade criativa e de expressão, e serve a comunidade farense e a cultura regional”.
"Nós sabemos perfeitamente que temos de sair daquele local, que não é nosso, foi vendido e tem um senhorio. Agora, não podemos é parar aquele projeto de maneira nenhuma, porque se pararmos nem que seja dois dias é o mesmo que acabar com a ARCM e o trabalho cultural que fez nos últimos 20 anos", sublinhou Armindo Dias, que nunca abandou o dircuso em jeito de apelo: "Precisamos de um espaço e de um arranque inicial rápido para pôr o pessoal nas salas de ensaio, porque a sala de espetáculos pode vir depois. O essencial é garantir os ensaios", enfatizou.

M.L. e José Farias