O protesto, organizado pela Associação Recreativa e Cultural de Músicos (ARCM), percorreu algumas ruas da cidade em direção ao Jardim Manuel Bívar, no centro de Faro, onde os músicos recordaram o papel que têm tido na vida cultural da capital algarvia nos últimos 20 anos.
O objetivo do desfile foi sensibilizar a sociedade de que vão perder as 18 salas de ensaios e pedir mais tempo às autoridades locais para continuarem a ensaiar nas instalações da Associação Recreativa e Cultural de Músicos (ARCM), antes de acatarem a ordem judicial de despejo.
"Foi um desfile de sensibilização para o que se está a passar e mostrar que não estamos a fim de sair dali sem ter um novo espaço", afirmou Armindo Dias, sócio fundador da ARCM.
A Associação Recreativa e Cultural de Músicos recebeu a notícia da sentença do Tribunal de Faro em outubro passado. A ação de despejo foi desencadeada pela empresa Cleber - Sociedade Imobiliária, a atual dona dos armazéns onde os músicos ensaiam e que custou cerca de dois milhões de euros aos antigos proprietários.
Ainda segundo Armindo Dias, "o ex presidente da Câmara de Faro Luís Coelho, e atual presidente da Assembleia Municipal de Faro (AMF), é procurador da Cleber e um dos promotores do projeto imobiliário que prevê apartamentos de luxo com vista para a zona protegida da Ria Formosa e zona comercial num valor que ascende os 30 milhões de euros".
Assim, o sócio fundador da ARCM apelou à "intervenção do ex-presidente da Câmara de Faro" - "o senhor Luís Coelho foi autarca, é presidente da AMF e tem responsabilidade na situação. Sabia que estávamos ali quando fez este negócio e só tem de ajudar-nos a resolver o problema, associar-se a nós e fazer parte da resolução, não do problema".
Com o lema "Os Músicos ficam sem casa, inevitavelmente Faro vai ficar sem música", muitos artistas desfilaram de instrumentos em punho e em silêncio por várias ruas da cidade de Faro.
Uma das alternativas para a nova sede da ARCM, e que a autarquia de Faro colocou como hipótese, é na zona da Horta da Areia, perto da Escola de Hotelaria de Faro, junto às salinas e linhas de caminho de ferro, mas carece de validação do Parque Natural da Ria Formosa e da Administração Regional Hidrográfica (ARH) do Algarve, processo que não se compadece com a sentença de despejo.
A Associação Recreativa e Cultural de Músicos recorda que é “um exemplo único de associativismo que cria condições à liberdade criativa e de expressão, e serve a comunidade farense e a cultura regional”.
"Nós sabemos perfeitamente que temos de sair daquele local, que não é nosso, foi vendido e tem um senhorio. Agora, não podemos é parar aquele projeto de maneira nenhuma, porque se pararmos nem que seja dois dias é o mesmo que acabar com a ARCM e o trabalho cultural que fez nos últimos 20 anos", sublinhou Armindo Dias, que nunca abandou o dircuso em jeito de apelo: "Precisamos de um espaço e de um arranque inicial rápido para pôr o pessoal nas salas de ensaio, porque a sala de espetáculos pode vir depois. O essencial é garantir os ensaios", enfatizou.
M.L. e José Farias