domingo, 11 de julho de 2010
Companhia de Teatro de Almada: Homenagem a Maria Barroso
SESSÃO DE HOMENAGEM A MARIA BARROSO
MARIA BARROSO, NA EXPOSIÇÃO "GOSTO DE MULHERES", NA GALERIA DO ARADE, EM PORTIMÃO
algarvia Maria Barroso homenageada no 27.º Festival de Almada
Após a sessão, que decorreu ontem à noite na Sala Principal do Teatro Municipal de Almada, em que, pela primeira vez, três grandes artistas – Carmen Dolores, Eunice Muñoz e Maria Barroso – se reuniram para darem expressão oral aos versos dos grandes poetas portugueses do século XX, decorreu, no Palco Grande da Escola D. António da Costa, a Sessão de Homenagem à actriz Maria Barroso, a figura que o Festival distingue este ano.
Homenageamos Maria Barroso não só porque é uma grande actriz (e se não voltou a fazer teatro, fez, felizmente, filmes que permitem às novas gerações conhecê-la), mas também porque a sua acção de combate corajoso contra a Ditadura constitui um exemplo para os jovens de hoje.
Como divulgadora da poesia, Maria Barroso deu voz aos poetas da Resistência, a uma geração de grandes criadores que pensava que a Arte não podia abstrair-se das causas sociais. O Festival de Almada sente-se orgulhoso de contribuir para saldar, através desta homenagem, uma parte da dívida que todos temos para com as generosas mulheres e os generosos homens que nos mostraram os caminhos da liberdade.
Joaquim Benite, Director do Festival de Almada
Cantos no palco de Almada se intitula a sessão de poesia onde foram declamados versos dos seguintes poetas: António Nobre, Álvaro de Campos, Almada Negreiros, Irene Lisboa, Carlos Queiroz, João José Cochofel, Joaquim Namorado, Mário Cesariny, Sophia de Mello Breyner, Eugénio de Andrade, Alexandre O´Neill, Maria do Rosário Pedreira, Mário Dionísio, Carlos Eurico da Costa, Mário Henrique Leiria, António Maria Lisboa, Fernando Alves dos Santos, Manuel da Fonseca, Álvaro Feijó, Sidónio Muralha e Jorge de Sena. No Teatro Municipal de Almada, perante uma plateia que lotou a sala, deram voz a um dos mais arreigados prazeres do público português: dizer e ouvir poesia, modo singular de nos pensarmos e de (re)inventarmos a nossa identidade e forma peculiar de resistência. Este foi um espectáculo que dificilmente se voltará a repetir. Pela encenação, pelo desenho de luz, pelo amplo espaço cénico da totalidade do palco, ora suavemente iluminado, ora mergulhado na escuridão rasgada apenas por um foco de luz que, sucessivamente, fazia destacar cada uma das actrizes eu declamava os poemas que escolhera. Por fim, um público entusiasta e que aplaudiu, não só cada poema declamado, como no final fez ecoar pela sala uma estrondosa e prolongada ovação, em pé.
Este espectáculo foi um dos grandes acontecimentos do Festival, juntamente com a Sessão de Homenagem a Maria Barroso, onde estiveram presentes várias figuras conhecidas do panorama teatral e cultural português, entre elas, as actrizes Lurdes Norberto e Linda Silva, o director do Jornal de Letras, Dr. José Carlos de Vasconcelos, a Sr.ª Presidente da Câmara Municipal de Almada, Dr.ª Maria Emília de Sousa e o Dr. Mário Soares. José Carlos de Vasconcelos começou por fazer uma comparação entre a vida da homenageada e o Festival de Almada, considerando que são únicos. Prosseguindo e recordando alguns traços da biografia de Maria Barroso, destacou toda a acção cívica que pautou toda a sua vida, ao mesmo tempo que a carreira artística ganhava projecção, rapidamente interrompida pelo regime fascista. Mas nada a impediu, esclareceu, de continuar a luta ao nível artístico declamando os poetas neo-realistas. Joaquim Benite, depois de entregar o troféu à homenageada (da autoria de José Aurélio), salientou que esta iniciativa “é um espaço que pretende contribuir para que não se perca a memória das pessoas”. A Presidente da Câmara, Maria Emília Neto de Sousa, que ofereceu igualmente um troféu a Maria Barroso, considerou-a “uma mulher de convicções artísticas e humanas”. No final da cerimónia, a homenageada, visivelmente comovida, fez questão de afirmar que o director do Festival, Joaquim Benite, “tem desenvolvido aqui uma obra extraordinária que deveria ser mais destacada nos orgãos de comunicação social, especialmente na televisão”. Terminou, agradecendo ao povo de Almada, com a lembrança dos tempos em que vinha à Incrível Almadense recitar “poetas malditos”, como o antigo regime os classificava.
No âmbito da celebração da carreira de Maria Barroso, enquanto homenageada da 27.ª edição do Festival de Almada, foi ainda organizado um ciclo de cinema, e uma exposição retrospectiva da sua actividade como actriz de teatro, cinema e declamadora de poesia (num espaço que ladeia o Palco Grande da Escola D. António da Costa).
O ciclo de cinema é uma organização conjunta do Festival de Almada com o Fórum Municipal Romeu Correia e o Famafest (Festival de Cinema e Vídeo de Famalicão). No Auditório Lopes-Graça do Fórum Romeu Correia, serão exibidos os filmes Mudar de vida, de Paulo Rocha, Benilde ou a Virgem Mãe, Amor de Perdição e O sapato de cetim, de Manoel de Oliveira.
Ciclo de Cinema - Programa
Mudar de Vida | Dia 7 às 21h00
Benilde ou a Virgem Mãe | Dia 14 às 21h00
Le soulier de satin (1ª parte) | Dia 20 às 17h00
Le soulier de satin (2ª parte) | Dia 20 às 21h00
Amor de Perdição | Dia 28 às 21h00
Maria de Jesus Barroso Soares, algarvia natural da Fuzeta, nasceu em 02-05-1925, estreou-se no Teatro do Ginásio em 1944 e foi até à década de 60, apesar da sua juventude, uma das actrizes mais pretigiadas do teatro português. Diplomada pelo Conservatório Nacional, licenciou-se depois em Ciências Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras de Lisboa. Entre 1944 e 1948 fez parte da companhia do Teatro D. maria II, dirigido por Amélia Rei Colaço. Interpretou um vasto reportório que incluía Camões, Alfredo Cortez, garret, Júlio Dantas, Gil Vicente, Cervantes, Lorca e José Régio.
Maria Barroso, esposa de Mário Soares, foi deputada e Primeira Dama entre 1986 e 1996. Entre outras funções foi Presidente da Cruz Vermelha Portuguesa e tem o título de Doutora Honóris Causa pela Universidade de Aveiro.
Como declamadora de poesia, participou em muitos recitais durante a Resistência à ditadura do Estado Novo.