domingo, 23 de maio de 2010

Quatro navios da Armada vão ao fundo em Portimão para criar primeiro museu subaquático do país




O afundamento de quatro antigos navios de guerra da Armada Portuguesa vai dar origem ao primeiro museu subaquático do país, ao largo da Praia da Rocha, disse o presidente da Câmara Manuel da Luz.
Entre os 12 e os 15 metros de profundidade, os navios - o oceanográfico “Almeida Carvalho”, a Fragata “Hermenegildo Capelo”, a Corveta “Oliveira do Carmo” e o navio-patrulha “Zambeze” - vão constituir “roteiros subaquáticos acessíveis a qualquer mergulhador”, explicou à Lusa o autarca.
A ideia, segundo Manuel da Luz, é “limpar os navios de guerra de todos os materiais poluentes, rebocá-los até Portimão e afundá-los a cerca de duas milhas da costa, numa área já identificada e validada pelas autoridades ambientais”.
O projeto de Museu Subaquático da Marinha de Guerra Portuguesa já mereceu a aprovação de diversas entidades com competências na matéria, nomeadamente do Ministério da Defesa, que emitiu neste mês despacho a ceder os quatro navios de guerra desativados, atualmente estacionados na Base Naval do Alfeite.
Manuel da Luz destaca o facto de, além de criar “um museu original”, o projeto permitir “reforçar o ecossistema”, pois “os navios afundados serão recifes artificiais numa zona sem qualquer riqueza, o que possibilita um aumento da biodiversidade das espécies”.
A operação, que deverá custar 2,5 milhões de euros, vai durar cerca de dois anos e meio, prevendo-se que o primeiro navio - a Corveta “Oliveira do Carmo”, com cerca 1400 toneladas, 85 metros de comprimento e 10 de boca, da classe “Baptista de Andrade” - seja afundado em novembro deste ano ou em abril de 2011.
“Tudo depende da disponibilidade do Arsenal do Alfeite para a empreitada de limpeza e adaptação do navio”, fez notar Luís Sá Couto, proprietário da empresa de mergulho Subnauta, uma das parceiras da autarquia para a implementação da ideia.
Os restantes navios serão afundados à cadência de um por cada nove meses, se bem que o presidente da autarquia admite poder vir a adaptar o calendário às disponibilidades financeiras.
Luís Sá Couto refere, no entanto, que “mal seja imerso o primeiro navio e estejam criados o roteiro e a sinalética”, será possível mergulhar neste museu debaixo de água, “mediante determinadas regras que serão definidas pela autarquia”.
O Museu de Portimão, recentemente eleito o melhor do ano pelo Conselho da Europa, vai ficar por seu lado “responsável pela exposição em terra, retratando a história dos navios e dos seus patronos”, realçou.
“É a primeira vez que se faz algo do género em todo o mundo, afundar vários navios que representem uma Armada e com isso contar a sua história debaixo de água”, completou Luís Sá Couto, fazendo referência à existência de apenas “casos isolados” de afundamento de navios em países como a Inglaterra, o Canadá, os Estados Unidos da América, a Nova Zelândia e a Austrália.
Em Portugal, o primeiro afundamento aconteceu em 1995, quando foi imergido um antigo arrastão de ferro ao largo de Faro para servir de recife artificial.
Em 2000, foi a vez da Porto Santo Line afundar a 700 metros da costa da ilha de Porto Santo, na Madeira, o cargueiro português “Madeirense”, criando assim uma nova atração turística no arquipélago.
Lusa