quinta-feira, 27 de outubro de 2011

CRISE AFECTA APOIO A SURDOS E CEGOS PORTUGUESES NAS ESCOLAS

HÁ FALTA DE PROFESSORES HABILITADOS PARA A EDUCAÇÃO ESPECIAL, MAS MUITOS QUE O SÃO NÃO FORAM COLOCADOS As redes nacionais de escolas de referência para surdos e para cegos são insuficientes e o mau aproveitamento dos recursos existentes deixa a descoberto milhares de alunos com necessidades educativas especiais, alerta o Departamento de Ciências da Educação e do Património (DCEP) da Universidade Portucalense (UPT).
A origem deste cenário, segundo a mesma fonte, radica na visão economicista dos últimos governos, que resultou numa política de má gestão e abandono do apoio às necessidades educativas da comunidade de pessoas com deficiência. “A filosofia positiva introduzida pelo último Governo, que em 2008 institucionalizou as escolas de referência em Portugal, foi entretanto minada por critérios economicistas de que o actual executivo também partilha, o que conduz a um claro abandono e desinvestimento nesta área da educação, resultando na descriminação social dos cidadãos com necessidades educativas especiais”, afirma António Vieira, docente do DCEP. Este responsável, também autor do Gestuário de língua gestual portuguesa (1991), diz compreender que a actual situação económica do pais não é propícia a investimentos de fundo para aumentar as redes nacionais de escolas de referência, cuja solução, a seu ver, passa por uma melhor qualificação e afectação dos recursos existentes. “Uma boa gestão dos recursos existentes seria um importante ponto de partida para começar a corrigir o problema e para isso é imperativo redefinir a distribuição e localização das actuais redes de escolas de referência em Portugal”, refere.
O mesmo responsável exemplifica com o caso da cidade do Porto, que conta com três escolas de referência – os agrupamentos Eugénio de Andrade, Alexandre Herculano e Soares dos Reis – e das vizinhas Vila Nova de Gaia e Matosinhos, que não têm nenhuma “Por uma questão ora de conforto, ora de falta de meios, os pais de alunos surdos de Vila Nova de Gaia e Matosinhos optam por colocar os filhos em escolas perto da sua área de residência, que não estão preparadas para corresponder às suas necessidades educativas especiais”, explica. A falta de professores habilitados para a Educação Especial é outro dos factores responsáveis pelas insuficiências nesta modalidade de ensino. “Não há no terreno recursos humanos qualificados em número suficiente, ou seja, por exemplo, professores que dominem a língua gestual portuguesa para poderem transmiti-la e comunicar correctamente com os alunos surdos, contribuindo para que se integrem mais eficazmente na sociedade”, assevera António Vieira. Face a esta situação, o docente volta a questionar as políticas educativas definidas para esta área, lamentando não entender a razão contraditória pela qual muitos professores habilitados para a Educação Especial nem sequer obtiveram colocação. A este propósito a UPT quer manter a discussão sobre melhores políticas de Educação Especial e Inclusiva e acolhe o IIº congresso internacional organizado pela Pró-Inclusão – Associação Nacional de Docentes de Educação Especial, nos dias 28 e 29 de Outubro. Afecto ao tema ‘Derrubar barreiras, facilitar percursos”, o evento vai reunir alguns dos maiores especialistas e referências mundiais na área, como Mel Ainscow (Universidade de Manchester) e Miguel Angel Verdugo (Universidade de Salamanca).