domingo, 20 de junho de 2010
Combate à desertificação exige “dinâmica que municípios e tecido económico não possuem” - Investigadora
A presidente da Associação Portuguesa de Demografia (APD), Maria Filomena Mendes, considera que, “embora possível, é muito difícil contrariar” o despovoamento e tendência para a desertificação” de algumas regiões do território nacional.
O fenómeno do despovoamento e da desertificação em Portugal tornou-se já “uma característica de algumas zonas e tem-se vindo a agravar”, designadamente, com o “envelhecimento da população”, sublinha, à agência Lusa, a investigadora e professora da Universidade de Évora.
Para reverter a “preocupante tendência” seria necessária “uma dinâmica que os municípios e tecido económico portugueses não possuem”, sobretudo “numa época de crise como a que vivemos”, afirma Maria Filomena Mendes, sem, todavia deixar de reconhecer a intervenção de diversas autarquias.
As tentativas de vários municípios para fixarem população “têm muito mérito”, sobretudo por “mostrarem preocupação em travar o despovoamento e em aumentar a taxa de fecundidade”, mas “poderão não ter o impacto que se espera e deseja”, lamenta a presidente da APD.
É cedo, no entanto, para analisar os efeitos dessas medidas. E também é cedo, por outro lado, para, por exemplo, “avaliar o impacto do encerramento de escolas e outro serviços e equipamentos”.
O envelhecimento, o despovoamento e a acentuada tendência para a desertificação, particularmente nalgumas regiões, atingiram já tal dimensão que a reversão da situação impõe outro tipo de medias, mas cuja adoção também é dificultada pela atual situação económica do país, diz a investigadora.
A deslocalização, pa ra o interior, de empresas, com os seus quadros qualificados e jovens, seria um bom meio para fixar pessoas e atenuar o despovoamento. Mas nem isso dispensaria outras medidas e políticas, adverte Maria Filomena Martins. De todo o modo, “a reversão do fenómeno já levará décadas”.
O despovoamento e “a evolução demográfica do país” não têm sido “acompanhadas, nem merecido a atenção necessária”, conclui a investigadora, alertando para o facto da desertificação ser uma ameaça que exige “a consciencialização de todos” e não apenas dos responsáveis.
Instituído em 1995, na sequência da aprovação, no ano anterior, pela Assembleia-Geral das Nações Unidas, da convenção sobre a luta contra a desertificação, o Dia Mundial de Combate à Desertificação e à Seca é assinalado em 17 de junho, na quinta feira.
Este ano, em Portugal, a data é evocada, designadamente, com a exposição ‘Terra Deserta’, que quinta feira é inaugurada em Lisboa, no Espaço Ferradura do centro comercial Colombo, onde se manterá até 24 de julho.
A exposição, que reúne 87 composições de 18 fotógrafos, já esteve patente em Mértola, Alcoutim, Moura e Portimão, seguindo, depois de Lisboa, para Barrancos (01 de agosto a 04 de setembro) e Castro Verde (13 de outubro a 13 de novembro).
‘Terra Deserta’, projeto resultante de uma viagem, de dez dias, de finalistas da licenciatura em fotografia do Instituto Europeu de Design de Turim, ao Alentejo e ao Algarve, é uma iniciativa realizada no âmbito da Década das Nações Unidas dos Desertos e do Combate à Desertificação 2010-2020.
Lusa