quinta-feira, 28 de abril de 2011

COMEMORAÇÕES DO DIA 25 DE ABRIL EM TAVIRA - Auditório encheu para ouvir Sérgio Godinho

Comemorar em liberdade, foi aquilo que a Câmara Municipal de Tavira, fez, neste dia 25 de Abril de 2011.
Na véspera, Sérgio Godinho, cantor de intervenção, lotou por completo o Largo da República - anfiteatro e espaço intermédio -.





Pelas dez horas, do dia 25, com a presença de autoridades civis e militares no edifício dos Paços do Concelho, foram Hasteadas as Bandeiras. Uma força do Regimento de Infantaria1, prestou as honras militares e o Hino Nacional, foi executado pela Banda Musical de Tavira que, após a cerimónia saiu em arruada por algumas artérias da cidade.
O Salão Nobre, abriu as portas para ali, os representantes dos Partidos com assento na Assembleia Municipal, expressarem o seu sentir. O Presidente da Assembleia Municipal, José Otilio Baia, abriu a sessão e à pergunta:
- Comemorar o 25 de Abril em liberdade, apesar dos contrastes sociais que ainda existem no nosso País?
- Essa é a verdade. Devemos continuar a celebrar em liberdade. Passaram 37 anos. Aquilo que nós precisamos ainda não foi possível implementar. Nós continuamos com problemas e agora mais que nunca. Mais convulsões politicas, o FMI, mas a verdade é para quem viveu antes do 25 de Abril eu, estava no serviço militar, ainda vivi 21 anos antes desta data. Sei o que era antes e depois da liberdade. É verdade que globalmente está mal. Portugal não foge à regra, mas acho que devemos continuar a comemorar o 25 de Abril com mais ou menos intensidade, recordar Abril, porque passados 37 anos não nos podemos esquecer dessa data.
Mais do que um feriado há que lembrar e fazer lembrar o que era antes e depois, fazendo a comparação e colocando os vários pesos na balança, penso que é irreversível, e as novas gerações, as que não viveram antes ou que na altura, por serem muito jovens, já não se lembram, não lhes passa pela cabeça voltar a viver como antes do 25 de Abril. Devemos recordar os Capitães de Abril, pois sem eles, não poderíamos viver o que se passou hoje neste Salão. Que as pessoas continuem a falar sem receio de que alguém venha por trás e os prive da sua liberdade.
Em representação das Freguesias, Carlos Baptista, de Cabanas, recordou que “à 37 anos atrás, Portugal de lés-a-lés transbordava de alegria. Tinha acabado de chegar a esperança de uma vida melhor e de uma sociedade mais justa. Verdade seja dita., períodos houveram em que se fez sentir mais justiça e uma vida melhor que se foi diluindo no tempo, até aos dias de hoje, onde Portugal está de rastos numa crise abrangente que não há memória de outra igual”.
Falou da falta de credibilidade da classe politica, considerados, todos iguais, e da justiça. “Não falta por ai Câmaras Municipais a queixarem-se de falta de apoio do Governo Central e de retardar decisões, só porque as cores são diferentes. Juntas de Freguesia a queixarem-se de tratamento desigual, pela razão macabra, que passa por relegar para segundo plano a resolução dos problemas de cada local das suas gentes, com a finalidade de criar descontentamento local, criando assim mais fácil a conquista de terminados territórios em próximas eleições”.
Falou o comemorar Abril com alegria e ao mesmo tempo tristeza pela situação que se vive. Deixou algumas censuras e não esqueceu os jovens, os homens e mulheres do amanhã. “Essas grandes vitimas do estado actual do País sem perspectivas de emprego, de um modo de vida digno que depois de terem sido apelidados de rascas, souberam dar uma resposta cabal, mobilizando-se em número de centenas de milhares, fazendo ouvir a sua voz de forma ordeira e pacifica, provando que ao contrário de uma juventude rasca é uma juventude à rasca, deixando à rasca quem os classificou como tal”.
Pela CDU, Isabel Santos, começou por relembrar que “a revolução de Abril constituiu a maior e mais popular e a mais profunda transformação das estruturas socioeconómicas, politicas e culturais do País”. Falou do direito para todos, ao pão, educação, saúde e habitação, “direitos que ficaram consignados na Constituição da República Portuguesa. Nacionalizou a banca e pôs fim à guerra colonial. O direito ao Serviço de Saúde, na infância, na doença, na velhice e no desemprego, através do Serviço Nacional de Saúde. Trinta e sete anos depois, mais de setecentos mil trabalhadores estão no desemprego. Centenas de milhar sem protecção social. A precariedade alastra, empobrece a trabalhar. O acesso aos direitos essenciais está cada vez mais longe. O aparelho produtivo definha. Portugal, 37 anos depois do 25 de Abril vive dependente da especulação financeira que diariamente nos rouba os recursos. Este é cada vez mais o tempo de defender e afirmar Abril, de lutar pelos direitos que conquistamos”.
José Manuel Carmo, representante do BE: “Infelizmente as verdades custam a engolir. Um ano depois para comemorar o 25 de Abril com a intervenção do Fundo Monetário Internacional (FMI) a pedido do Governo. O PS que nos foi prometendo que o não faria, por tal não ser necessário. Mas foi todavia tomando medidas que levariam à entrada do FMI, no fundo, como o PSD desejava e no momento em que o consórcio dos principais banqueiros o determinou”.
Referiu os vários alertas do BE para evitar a situação actual. “Alguém está a negociar com o FMI? O FMI não veio para negociar, mas para aplicar as suas medidas, como aplicou na Islândia, Grécia e Irlanda. Efectivamente Portugal está a ser governado pelos representantes do capital financeiro mundial. Os partidos de direita, PS, PSD e CDS, querem mostrar que governam mas não o fazem. O BE regeita este recurso ao programa do FMI. Não se trata de uma ajuda. Tem preços altos”
Todo o seu discurso foi virado para a situação económica e a presença do FMI e para terminar:
“Nos últimos tempos fomos confrontados com uma grande notícia que colocou Portugal na expectativa; se o BE e o PCP se entenderiam. Grande notícia! Foi claramente uma má notícia. Todavia foi tão bem orquestrada que daí ia sair qualquer coisa grande. Já viram como se faz a manipulação informativa neste País? Este é um deles. O PCP e o BE sempre se entenderam”.
O representante do PSD, Hélder Conceição, referiu que “passados 37 anos vivemos um dos momentos mais preocupantes do nosso País, para a nossa democracia. Os tempos estão difíceis, mas há que corrigir na medida e nos valores, para que todos os portugueses voltem a ter esperança no futuro. Temos de voltar a ter confiança nas nossas Instituições. A recuperação nacional deverá apontar uma verdadeira democracia. Hoje, mais do que nunca, devemos ter esperança no futuro para que todos os portugeses se unam na recuperação nacional. Devemos votar em quem nos mereça mais confiança, para restaurar a confiança e credibilidade no futuro”.
Pelo PS, José Alberto Correia, “celebrar o 25 de Abril de 1974 é também celebrar a coragem, a determinação, a abnegação e a valentia de quem com risco da própria vida levou a cabo o extraordinário movimento militar que promoveu uma revolução que fez sucumbir a ditadura do Estado Novo e a restaurar a democracia. Estes bravos Capitães de Abril que durante treze anos travaram uma guerra em territórios africanos, Angola, Moçambique e Guiné, tinham no início um movimento essencialmente reivindicativo, fazendo voz de um crescente descontentamento que grassava nas classes militares mais baixa – praças e sargentos – mas principalmente à classe dos oficiais milicianos que se viam cada vez mais desfavorecidos e desprestigiados aos olhos do Poder Central e com eles a própria Instituição Militar no todo, acusados de não ganharem uma guerra que só podia ser resolvida no plano politico e não no plano militar.
Celebrar o 25 de Abril é celebrar o Movimento das Forças Armadas que em boa hora se identificaram e ficaram ao lado da Nação com realismo e coragem, acabando com uma guerra insustentável por não poder ser ganha, por ser injusta, por não ter em conta a realidade incontroversa do direito dos povos à sua auto-determinação. E por fim, devolvendo aos portugueses a legitimidade de poder escolher pelo voto democrático os seus destinos colectivos, representativos das aspirações e interesses do povo português.
Termino a minha intervenção pedindo às gerações mais jovens que nos ouvem para que saibam dar valor à vida em liberdade, à democracia, à liberdade de expressão e tenha msempre presente o que o povo diz com toda a sua sabedoria. É na ausência que se conhece a falta. Ou seja. Nunca queiram viver na ausência da liberdade. Hoje o 25 de Abril é de Portugal e de todos ao que se revêem na democracia”.
O Presidente do Município, Jorge Botelho, encerrou a sessão referindo que mais uma vez, naquela Sala, depois de uns anos de interrupção, se comemorava o 25 de Abril. “Este tem um significado diferente, porque nem a própria Assembleia da República encontrou tempo para reunir os Senhores Deputados, para comemorar em Sessão Solene, que apesar de dissolvida, podia em minha opinião, reunir para comemorar este dia”.
Falou da forma livre com os oradores apresentaram a sua forma de sentir. Reconheceu que os tempos estão difíceis para todos. “É o Estado, os privados e as famílias. Todas a gente. Dificuldades sim, mas não chegando ao ponto de dizer que não há dinheiro para nada. Porque isso é o verdadeiro discurso da derrota completa da democracia e do espírito do 25 de Abril de 1974. Hoje, o poder local está completamente enraizado. Está consolidado financeiramente. Todos trabalham para fazer desta terra e dos concelhos todos, o melhor possível”
Falou sobre os jovens e o seu futuro. “Ou procuram aqui trabalho o que cada vez é mais difícil ou têm de procurar no mercado global procurando noutros países. Temos de acreditar em dias melhores. Os jovens sempre deram um passo em frente e vão continuar a fazê-lo”.
Sublinhou as dificuldades das famílias que vão sendo minoradas “com o apoio de muita gente anónima, pelas instituições de solidariedade social. Os portugueses vão, como sempre o fizeram, conseguir superar a situação actual.

Geraldo de Jesus