quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
50% das escolas do distrito de Faro apresentam níveis de iodo abaixo do recomendado
Últimos dados do "Estudo do Aporte do Iodo em Portugal” divulgados hoje
Os dados revelados, hoje, sobre a avaliação da carência de iodo em crianças em idade escolar, em Portugal, revelaram que as escolas estudadas na região de Faro e Beja apresentam um aporte de iodo insuficiente. Cerca 50% das crianças analisadas em ambas as áreas apresentam níveis de iodo abaixo do recomendado, quando a media do país é de 46,9%. Os resultados revelam ainda uma franca melhoria, quando comparados com os dados dos anos 80. Estas são as principais conclusões do "Estudo do Aporte do Iodo em Portugal” apresentado durante o XII Congresso Português de Endocrinologia e que contou com o apoio da Merck Serono.
O estudo revelou ainda que, em termos geográficos, o sul do país é a zona onde podemos encontrar níveis de iodo na população infantil de acordo com o recomendado (55%). As crianças da zona centro apresentam níveis adequados de 53% e do norte com 50%. Já no que diz respeito à carência moderada, o norte revela o valor mais alto com 14%, o sul chega aos 12% e o centro aos 10%.
A análise comparativa entre as zonas do litoral e do interior revelou valores idênticos, ou seja, 53% da população infantil apresenta valores adequados e 12% apresenta uma carência moderada. Ainda em termos comparativos, de ambientes rurais com ambientes urbanos os valores revelam-se também muito semelhantes. Em meio rural temos 52% de níveis adequados e em urbano 54%. Já a carência moderada chega aos 13% em meios rurais e 11% em ambiente urbano.
Das principais conclusões do estudo, destaca-se ainda o facto da carência verificada na Madeira ser muito superior à do continente: 68% das crianças apresentaram níveis de iodo baixos e no continente 46,9%. Enquanto no continente 53,1% das crianças avaliadas apresentaram níveis de iodo adequados, na Madeira apenas 32% o apresentam. Já em termos de carência grave no continente registaram-se 2% e na Madeira 4%.
A análise por regiões demonstra que da percentagem de escolas estudadas por cada zona do país, as escolas de Aveiro e Coimbra foram as que apresentavam os valores mais baixos. 75% das escolas analisadas nestas duas zonas apresentavam os valores das medianas abaixo do desejado, traduzindo um aporte de iodo insuficiente. Ao observar-se as escolas estudadas noutras zonas, encontramos Bragança com 60% das escolas estudas com valores das medianas menores do que o recomendado, seguido do Porto com 54,5%; Faro e Beja com 50%; Castelo Branco com 40%; Viseu com 33,3%; Lisboa com 26,3%; Portalegre com 25%; e em Leiria e Vila Real nenhuma das escolas analisadas apresentou valores de medianas abaixo do desejado.
«Em Portugal, graças à profilaxia iodada, levada a cabo no distrito de Castelo Branco, nos anos 60 e 70 e também à melhoria progressiva das redes de comunicação e de distribuição de alimentos, o bócio endémico foi praticamente erradicado. No entanto, pensa-se que o aporte iodado em Portugal está, nos últimos anos, longe de ser suficiente. Considerando os efeitos nefastos do baixo aporte iodado no desenvolvimento cognitivo das crianças há que equacionar, para além da suplementação na gravidez, a profilaxia global mediante a iodização do sal.» defende Edward Limbert coordenador do estudo hoje apresentado.
De acordo com a Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM) o deficit de iodo é um dos principais factores de risco para o aparecimento de alterações da função da tiróide.
Trabalhos de investigação desenvolvidos recentemente indicam que deficiências moderadas de iodo podem causar alterações importantes, nomeadamente durante a gravidez e a infância, alturas em que a necessidade de iodo aumenta. Uma deficiência de hormonas tiroideias podem resultar em prejuízos no desenvolvimento físico e mental, cuja seriedade depende do grau de insuficiência. Défices baixos e moderados de hormonas tirodeias podem afectar gravemente o coeficiente de inteligência e o crescimento do feto. Assim, é recomendado que todas as mulheres grávidas ou a amamentar tomem suplementos nutricionais diários que contenham iodo.
«A profilaxia global, recentemente, decretada noutros países europeus, como a Itália e a Dinamarca, permitiria que as mulheres tivessem reservas de iodo suficientes para iniciarem a gravidez em condições que garantissem uma função tiroideia normal e beneficiaria o desenvolvimento das crianças com aporte de iodo inadequado.», acrescenta o coordenador.
O "Estudo do Aporte do Iodo em Portugal” em crianças em idade escolar foi desenvolvido pelo Grupo de Estudos da Tiróide da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM) e teve a coordenação do Prof. Edward Limbert. Avaliou uma população de 3.679 crianças, de 78 escolas do continente (norte centro e sul, zonas costeiras e interiores) e 311 crianças de 40 escolas da Madeira. Um total de 3.990 crianças, com idades dos 6 e 12 anos e de ambos os sexos. O estudo contou com o apoio da Merck Serono, tanto no desenvolvimento, como na divulgação.