quarta-feira, 21 de setembro de 2011
DO OUTRO LADO: A SAÚDE MENTAL DOS MAIS VELHOS
- ASSOCIAÇÃO ÂNCORA PROMOVE CONCURSO “AVÔ, MELHOREI A CASA”
Entrevista de: Geraldo de Jesus
Inspirado no programa de TV “Querido, Mudei a Casa”, no âmbito do Projecto"Do outro lado: a saúde mental dos mais velhos" a Associação Âncora, está a promover o concurso "Avô, Melhorei a Casa". Para saber mais pormenores, fomos até Santa Luzia, falar com Marta Camacho, Psicóloga, da Associação:
Geraldo de Jesus (GJ) – O que pretendem exactamente com este concurso?
Marta Camacho (MC) – Este concurso está inserido no Projecto financiado pelo Alto-comissário da Saúde, chamasse “Do outro lado. A saúde mental dos mais velhos” e pretende melhorar as condições das habitações dos idosos do concelho de Tavira. Nós sabemos que além da solidão, existem idosos a viver em condições pouco recomendáveis, acabando, por isso mesmo, por se desleixar um bocadinho e vivem em condições menos próprias, menos dignas. Nós queremos atacar isso, Tornar a casa deles um lar.
GJ – Uma equipa a ir visitá-los e convidá-los a ir viver do outro lado?
MC – Exactamente. Tornar o outro lado, o deles, o mais agradável possível.
GJ – Uma pessoa já na terceira idade que vive só, isolado, na cidade. Convive, mas passa muitas horas em casa, poderá inscrever-se nesse projecto?
MC – Perfeitamente. Os únicos requisitos é que seja idoso – mais de 65 anos – e seja residente no concelho de Tavira. É só trazer a conta da água e da luz, dizer que gostava de ter um quartinho novo, porque a cama já magoa as costas ou então uma cozinha nova porque o esquentador já não funciona. Que precisa de um micro-ondas porque às vezes o gás avaria e tem de comer a comida fria. Ter uma casa mais simpática, mais acolhedora. É isso que nós pretendemos.
GJ – O apoio a dar, estará dependente do rendimento?
MC – Sim, também. Vamos ter em consideração o rendimento das pessoas, o seu suporte social, mas também vamos ter em conta a comunidade. Nós pretendemos que os vizinhos ajudem. Que as empresas façam protocolos connosco. Queremos envolver toda a comunidade. Os vizinhos, a família, os amigos, vão ser sem dúvida parte do projecto
GJ – Agregar outras pessoas que têm família, mas que está longe. Que visitam periodicamente ou talvez nem isso?
MC – Sim. Muitas vezes deparamos com esses casos e daí a importância da rede social à volta. Os vizinhos, às vezes estão mais próximos de nós do que a família. Muitas vezes os vizinhos ficam só à porta de casa.
GJ – Isso, constamos no dia-a-dia, mas as pessoas têm vergonha de apresentar o seu problema.
MC – É verdade. Aqui não têm que ter vergonha. Nós vamos ser uma equipa bastante restrita. Vamos fazer uma visita e vamos fazer de tudo para que a pessoa se sinta bem. Possa receber família, vizinhos em casa, numa festa total.
GJ – Vai ser um Natal todos os dias?
MC – O nosso objectivo é isso mesmo. Dentro do mais curto espaço de tempo possível, apresentar a divisão da casa que for alterada, para ser um Natal o que seria o ideal.
GJ – Quanto tempo vai durar este concurso?
MC – Por nós, queremos ampliá-lo e desenvolvê-lo, mas isso dependerá do número de inscrições e da vontade das pessoas. Neste momento, as inscrições estão abertas até 30 de Setembro, mas é possível que alarguemos o prazo um pouquinho mais. Se houver várias inscrições, vários pedidos, nós queremos dar resposta a todos, apesar do prémio ser só um. Temos a ambição de ficar com os outros na gaveta, nos corações e ir até eles um pouco mais tarde.
GJ – Mesmo que não sejam contemplados, sentir a alegria de que alguém se lembrou deles?
MC – Sem dúvida. Para além disso uma visita é garantida. Vamos conhecer a pessoa e o espaço. Eventualmente, vamos averiguar e poderá não ser a pessoa contemplada. Essa visita vai acontecer e essas informações vão ficar connosco, para um dia mais tarde conseguirmos intervir. É esse o nosso objectivo.
GJ – Falou-me em empresas. Todos sabemos que há crise e que as empresas se fecham nessa palavra.
MC – É verdade. É sem dúvida uma realidade nacional. Felizmente a Âncora conta com a boa vontade de muitos voluntários que fazem de todos os nossos projectos um pequeno sucesso. Antes de mais, quero agradecer a todos eles. Basta uma pessoa para fazer a diferença. Por exemplo. Um pedreiro que esteja desempregado e dá o seu tempo. Alguém que tem um saco de cimento a mais. Todos nós em liberdade, vejo isso acontecer todos os dias na Âncora.
GJ – A Âncora confiante no sucesso de mais este projecto? Esta entrevista poderá contribuir também para isso?
MC – Esta entrevista já espalhou um sorriso numa cara e espero que seja um bom pronuncio do resto do projecto.