terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Estudo revela que prevalência da DPOC passa de 5,3% para 14,2%


No último dia do XXVI Congresso de Pneumologia foram apresentados “novos dados da DPOC em Portugal”, que mostraram níveis bastante mais elevados dos previamente conhecidos. O estudo revelou ainda uma prevalência de DPOC em não fumadores muito significativa, o que leva a considerar outros factores de risco para esta doença. Os dados são resultado do projecto BOLD em Portugal e foram apresentados pela primeira vez a nível nacional.
Segundo a Sociedade Portuguesa de Pneumologia, a iniciativa BOLD surgiu para proporcionar o estudo de prevalência da Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) a nível mundial, através da utilização de métodos standardizados para a medição de dados. Em Portugal, a investigação procurou apresentar uma estimativa da prevalência da DPOC em adultos com 40 ou mais anos, num universo de 2.700.000 habitantes da cidade de Lisboa.
O estudo apurou que a prevalência da DPOC é significativamente superior aos números obtidos num estudo anterior, também efectuado pela Sociedade Portuguesa de Pneumologia, ou seja, passamos de 5,3% para 14,2%. Sendo que este valor nos homens chega aos 18,7% e nas mulheres aos 10,5%. Já entre os fumadores activos a prevalência atinge os 17,9% (22,3% nos homens e 14,4% nas mulheres).
O BOLD mostrou ainda que a prevalência de fumadores activos é de 17,9%, sendo de 22,3% nos homens e de 14,4% nas mulheres. Já a taxa de fumadores actuais ou ex-fumadores apresenta um valor de 42,9%, sendo de 60,7% para os homens e de 28,3% para as mulheres.
Mais uma vez, são valores superiores aos conhecidos de investigações anteriores, mas muito idênticos aos de outros países, que também utilizaram a metodologia BOLD.
O projecto BOLD revelou ainda que a prevalência da DPOC vai aumentando conforme as faixas etárias, ou seja, quanto maior a idade maior o índice de prevalência. Logo, a probabilidade de sofrer da doença é muito superior em indivíduos mais velhos. Os dados apresentados mostraram que em indivíduos com 70 ou mais anos, a prevalência pode chegar aos 47,2% nos homens e a 21,5% nas mulheres. Como é expectável, a prevalência é mais elevada com o aumento da carga tabágica.
O estudo apresentou ainda um dado pouco expectável, nomeadamente a obstrução brônquica pós broncodilatação em 9,2% de não fumadores, o que revela que a DPOC não pode ser unicamente encarada como uma doença decorrente dos hábitos tabágicos.
«Os dados decorrentes do estudo BOLD em Portugal apontam para uma prevalência da DPOC significativamente superior ao que era previamente conhecido. Revelam também que para além dos hábitos tabágicos que são o principal factor de risco conhecido, existem factores adicionais que devem ser considerados nas estratégias de prevenção desta doença.» revela Cristina Bárbara directora do Serviço de Pneumologia do Hospital Pulido Valente, em Lisboa, professora da Faculdade de Ciências Médicas e responsável pelo coordenação deste projecto.
Para Carlos Robalo Cordeiro, presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, «os novos dados da DPOC em Portugal revelados agora pelo BOLD vêm mais uma vez mostrar como é urgente implementar coerentemente uma estratégia de Prevenção e Controle das Doenças Respiratórias. Mais que uma questão de saúde pública trata-se de um problema que não pode ser ignorado em termos socio-económicos. Os custos directos associados às doenças respiratórias rondam os 600 milhões por ano, sendo que só a DPOC é responsável por 240 milhões.»
A DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica) é uma doença broncopulmonar muito comum que resulta de uma obstrução das vias aéreas. Provoca dificuldade em respirar, tosse e um aumento significativo da expectoração e afectará mais de 500 mil portugueses. Como é uma doença que se instala lenta e progressivamente e os sintomas demoram a manifestar-se, o doente só recorre ao médico numa fase avançada da doença. À medida que os sintomas vão avançando, as limitações no dia-a-dia dos doentes vão-se manifestando. Movimentos simples como subir umas escadas podem tornar-se um desafio, levando gradualmente à incapacidade e morte prematura.