sexta-feira, 23 de abril de 2010
UAlg atribui doutoramento honoris causa ao escritor Pepetela
No próximo dia 28 de Abril, pelas 16h00, no Grande Auditório do Campus de Gambelas, proceder-se-á à atribuição do Grau de Doutor Honoris Causa ao escritor Pepetela. Um dos actuais expoentes máximos da literatura de língua portuguesa, o escritor Pepetela terá como padrinho o Prof. Doutor António Correia e Silva, reitor da Universidade de Cabo Verde.
Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, mais conhecido pelo nome de Pepetela (que significa “pestana” em umbundo), nasceu em Benguela, Angola, em 1941. No final dos anos 50, iniciou os seus estudos superiores em Portugal mas, com o início da luta armada de libertação nacional em 1961, teve de exilar-se em França e depois na Argélia, onde se licenciou em Sociologia. Fortemente empenhado no processo de independência do seu país, foi guerrilheiro e ocupou, depois de 1975, importantes cargos no partido do governo: foi Director do Departamento de Orientação política do MPLA e vice-ministro da Educação. Actualmente é professor universitário em Luanda e membro da Comissão Directiva da União dos Escritores Angolanos.
O percurso literário de Pepetela reparte-se principalmente pelos géneros da prosa e do teatro, o último incluindo dois títulos, A Corda (1978) e A Revolta da Casa dos Ídolos (1980), peças de manifesto cariz político. A primeira, na linha da literatura oficiosa pós-independência, exalta o momento histórico, a missão ideológica e o novo poder em Angola, enquanto a segunda é uma parábola das consequências de uma gorada tentativa de golpe de estado que chocou a sociedade angolana, em 1977. No entanto, é no domínio da ficção que a importância do autor angolano é mais relevante. Na sua generalidade, a crítica é unânime em considerar a escritor angolano como o mais significativo autor da sua geração, devido à matéria temática dos seus textos que se baseia na realidade concreta de Angola, quer do ponto de vista histórico, quer duma perspectiva alegórica e lendária.
“Sigo, como disse antes, uma linha de preocupação em relações às situações que vou encontrando, em particular na sociedade angolana. Por vezes dá-me gosto ir ao passado procurar uma ponta do véu que possa explicar o presente, ou alguma particularidade do presente. Há pois uma certa continuidade entre o sociólogo e o ficcionista. Quanto aos prémios, eles são importantes na medida em que mostram haver pelo menos um reduzido número de pessoas (os eventuais membros de júri) que dão valor ao meu trabalho e servem também para lhe dar maior visibilidade. Mas sem prémios escreveria na mesma”, afirma o escritor nas breves palavras trocadas com o Gabinete de Comunicação da UAlg, a propósito do doutoramento honoris causa.
No que diz respeito às suas principais referências literárias, Pepetela revela-nos que “as referências também podem ir mudando com novos conhecimentos e novos tempos. Mas diria que fui muito fortemente influenciado pela literatura brasileira quando era jovem e pelo cinema e literatura americanos logo a seguir. Mas segui autores dos quatro cantos do mundo durante toda a minha vida.” De qualquer forma, sempre preferi livros que contem uma estória, não tenho paciência para ler trinta ou quarenta páginas em que nada acontece, está apenas um personagem a lutar contra os seus estados de espírito. Pode ser muito bem escrito, mas é aborrecido, acho”, confessa.
Sobre a atribuição do grau de Doutor Honoris Causa pela Universidade do Algarve, Pepetela mostra-se “muito comovido pela lembrança da Universidade do Algarve que, com esta homenagem, está a abrir os braços a um escritor que é, acima de tudo, um cidadão angolano. Suponho que a homenagem deva ser estendida ao meu país e isso provoca sem dúvida um certo orgulho, o de me considerarem até certo ponto um embaixador de uma cultura ainda tão mal conhecida.”
No plano internacional, a importância da obra de Pepetela confirma-se pelo interesse que diversas editoras revelaram em divulgar os seus romances. As suas narrativas encontram-se publicadas em Portugal e no Brasil e traduzidas nos seguintes países: Alemanha, Bulgária, Chile, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Inglaterra, Itália, Japão, Noruega, Rússia, Suécia, Suíça e Uruguai. Os prémios que lhe foram atribuídos são outra prova do valor da sua obra, com destaque para o Prémio da Associação Paulista dos Críticos de Arte (1993), o Prémio Prinz Claus, da Holanda (1999) e o Prémio Camões, em 1997. O reconhecimento da sua produção literária é corroborado também por vários estudos académicos, elaborados em universidades portuguesas e brasileiras.