quinta-feira, 10 de novembro de 2011

DII é responsável por ausências do trabalho e dificuldades na gestão das relações interpessoais

No último ano, 74 por cento dos doentes tiveram de faltar ao trabalho devido à doença. Vinte e cinco por cento foram alvo de acusações, comentários ou sofreram de discriminação no local de trabalho. Quarenta por cento das pessoas com DII evitaram relacionamentos íntimos ou terminaram uma relação devido à sua condição
Um inquérito promovido pela Federação Europeia das Associações de Crohn e Colite Ulcerosa (EFCCA), para avaliar o real impacto da Doença Inflamatória do Intestino (DII), revelou que a doença tem implicações significativas na vida dos doentes, a nível do trabalho e das relações interpessoais. Participaram no inquérito mais de seis mil doentes de 25 países. “A participação de mais de seis mil doentes de DII em toda a Europa ultrapassou totalmente as nossas expectativas”, afirma Marco Greco, presidente da EFCCA. “Infelizmente, o impacto da DII nas nossas vidas ainda acontece a um nível inaceitável, como pode ser concluído a partir dos resultados deste inquérito” completa. Em Portugal existem cerca de 15 mil doentes com DII, registando-se 100 novos casos todos os anos. Em 20 por cento dos casos a doença tem início durante a infância ou adolescência.
De acordo com o inquérito, 74 por cento dos inquiridos teve de ausentar-se do trabalho no último ano, devido à doença. Mais de um quarto afirma mesmo ter estado ausente do trabalho por um período superior a 25 dias. Um quarto dos doentes foi alvo de acusações, comentários injustos ou sofreu algum tipo de discriminação no local de trabalho. A maioria dos doentes está empregada a tempo inteiro, embora alguns estejam desempregados ou tenham empregos precários em consequência da doença. Além do trabalho, a DII tem um impacto significativo também nas relações interpessoais. Quarenta por cento dos doentes afirma ter evitado ou terminado uma relação íntima devido à doença. Por outro lado, o contacto com outras pessoas na mesma condição ou que façam parte de associações parece ter um impacto positivo na vida dos doentes. A nível do diagnóstico, os doentes consideram que o acesso a cuidados especializados é geralmente bom, tendo a maioria um diagnóstico final atempado. Apesar disso, cerca de 18 por cento dos doentes considera ter esperado demasiado tempo pelo diagnóstico da sua doença.
O número de internamento de doentes com DII é bastante elevado - aconteceu em 85 por cento dos casos -, representando uma morbilidade significativa e uma elevada procura de serviços de saúde. No que diz respeito ao tratamento, os doentes afirmam que, embora tenha aumentado, o acesso a terapêuticas biológicas ainda está disponível apenas para uma minoria. Muitos doentes vivem com complicações associadas à DII. Quarenta e nove por cento têm problemas de articulações, 34 por cento sofre de problemas de pele, e 28 por cento afirma tomar regularmente analgésicos para alívio dos sintomas. A qualidade da comunicação nas consultas é para alguns doentes um aspecto a melhorar já que, muitas vezes, não conseguem fazer as perguntas que gostariam. Em conclusão, Ana Sampaio, presidente da Associação Portuguesa da Doença Inflamatória do Intestino, nota que “mesmo com a disponibilização de terapêuticas imunossupressoras e biológicas há mais de uma década e com um maior acesso a cuidados de saúde, o impacto da DII na vida dos doentes continua a ser enorme”. Para a presidente da APDI, este inquérito “veio mostrar-nos que há um grande trabalho a fazer de divulgação do impacto social da doença. O inquérito traz também novas perspectivas para reduzir o impacto da doença e importantes recomendações para o seu tratamento e cuidados de saúde prestados aos doentes” conclui.