terça-feira, 16 de novembro de 2010

Presidente da República prestou homenagem ao Infante D. Henrique em Lagos





O Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, esteve no passado dia 13 de Novembro, em Lagos, e presidiu à cerimónia protocolar que decorreu no âmbito da Celebração dos 550 Anos Sobre a Morte do Infante.
A cerimónia, que teve lugar na Praça do Infante, contou com a presença de individualidades regionais e nacionais, nomeadamente autoridades civis e militares, o Duque de Bragança e o Bispo do Algarve.
O Presidente da República chegou à Praça do Infante às 16h00, tendo sido acompanhado até à Tribuna de Honra pelo Chefe de Estado-Maior da Armada, Almirante Fernando Melo Gomes, e pelo Presidente da Câmara Municipal de Lagos, Júlio Barroso, ao que se seguiu o momento das honras militares e da deposição de coroas e homenagem junto à Estátua do Infante.
O Presidente da Câmara Municipal de Lagos foi o primeiro a intervir na cerimónia, começando por lembrar que “nesta data, 13 de Novembro de 2010, passam exactamente 550 anos sobre o desaparecimento dessa figura maior da História de Portugal que foi o Infante D. Henrique. Com efeito, foi a 13 de Novembro de 1460, na sua vila de Sagres, que faleceu Dom Henrique. Nesse mesmo dia, o seu corpo foi trasladado para a Igreja de Santa Maria em Lagos (não esta que se encontra nesta praça, mas a antiga, situada no interior do núcleo primitivo deste centro histórico, arrasada pelo terramoto de 1755). Só algumas semanas mais tarde, já em 1461, os seus restos mortais seriam finalmente sepultados no Mosteiro da Batalha. Assim como esteve ligado à vida do Infante, o município de Lagos também na morte o acolheu”.
Recordando que “Henrique, o Infante, destacou-se sobretudo como um líder, um estratego, um comandante e um empreendedor esclarecido, que soube organizar homens e meios, traçar metas e objectivos, enfrentar desafios e obstáculos, conseguindo resultados inovadores e multiplicadores” Júlio Barroso afirmou que esta acaba por ser “uma verdadeira lição de empreendedorismo de sucesso para os tempos de crise que correm.”
Lembrando ainda as raízes e da educação do Infante, o autarca lacobrigense aproveitou para sublinhar ainda outra lição dos tempos henriquinos: “sem um investimento sólido na cultura e na educação, é muito mais difícil vencer desafios e obstáculos, pois falta o conhecimento, os hábitos de trabalho, a capacidade, a imaginação e a auto estima necessários para se ultrapassarem os problemas de forma criativa e inovadora. É, pois, de toda a justiça e com toda a legitimidade histórica que os municípios das «Terras do Infante», em parceria com o município da Batalha, com o alto patrocínio do Governo da nação e do mais alto magistrado da nossa democracia, convoquem todos os portugueses a evocar a figura do Infante Dom Henrique e o que ela representa”.
Já a terminar a sua breve intervenção, Júlio Barroso, reforçou que “sem saudosismos, saibamos ter orgulho nesse passado tão rico de progresso e de vontade de vencer. Honremos, no presente e no futuro, o legado de pioneirismo e espírito empreendedor, que, com determinação, esforço e coragem permitiu ultrapassar bojadores e adamastores, fazer calar velhos do Restelo e dar a conhecer novos mundos ao mundo. E possamos todos juntos ajudar a cumprir Portugal, e, com Fernando Pessoa, repetir: «Valeu a pena? Tudo vale a pena se a alma não é pequena!»”
Seguiu-se a alocução do Presidente da República, que aqui se transcreve na íntegra:
“No dia em que se completam 550 anos sobre a morte do Infante D. Henrique, reunimo-nos em memória do Navegador. Nós, portugueses, bem sabemos de quanto lhe somos devedores.
A sua presença é ainda hoje sentida em todo o Portugal e, em singular medida, nas Terras do Infante. Recordo a homenagem que lhe prestei quando decidi, como Primeiro-Ministro, dar o nome de Infante de Sagres à auto-estrada que liga o Algarve ao resto da Europa. Quis, com este gesto, continuar a rota do Infante D. Henrique, que daqui abriu Portugal ao mundo.
Lagos foi o berço de um sonho que extraiu mundos do mar. Destas praias partiram as caravelas do filho de D. João I. As mesmas caravelas que depois retornavam com novas das terras e dos homens desconhecidos.
Navegadores, cientistas e mercadores de “desvairadas nações de gentes tão afastadas do nosso uso”, todos eles, assinalava Gomes Eanes de Zurara, ansiosos “de ver a formosura do mundo”, povoavam estas ruas onde se ouviam falares exóticos e se discutiam os feitos dos homens de D. Henrique.
Escutavam-se os relatos das últimas viagens. Estudavam-se as cartas e as rotas, os céus e os mares. Questionavam-se as certezas da sabedoria medieval.
Astronomia, matemática e geometria conjugavam-se para produzir os conhecimentos práticos que tornavam possível a próxima viagem, aquela que permitiria ir um pouco mais além. Assim se cumpriu a ambição do Infante, indo sempre um pouco mais além.
Nos primeiros tempos foi necessário ultrapassar as amarras da lenda e do medo e superar os estreitos limites do saber fundado na autoridade.
A vontade foi mais forte que a lenda e o medo e mostrou que navegar podia ter ida e volta, ao contrário do que dizia a tradição do Mar Tenebroso.
Poderá um só indivíduo mudar o curso da história? Terá um único ser humano a possibilidade de instaurar algo de novo na vida de todos os outros seres humanos? E de assim afectar o destino de todo um povo?
Um indivíduo pode ser a força vital por trás de certos acontecimentos que mudam a história. Aquele cujo sonho amadurece no tempo certo.
Marinheiro e missionário, sonhador mas prático, movido por ideais de cavalaria e pela vontade de saber, foi um ser humano com todas as suas contradições, colocado numa situação extraordinária. Ou, indo mais fundo, foi um ser humano que, pelo peso da sua personalidade, fez extraordinária a situação que viveu. Porque não se limitou a sonhar e passou à acção.
O Infante não aceitou nunca os limites que a terra nos queria impor. E, por isso, encontrou no mar um destino. Para nós foi, acima de tudo, o descobridor da vocação atlântica de Portugal.
Quando começou, todos os problemas estavam por resolver. Dele foi o primeiro empreendimento pensado, organizado e, sobretudo, duradouro. Por quarenta anos se navegou em nome de D. Henrique.
Foi um empreendimento longo, que soube inspirar com temeridade e pertinácia.
É reconhecido por todos como o primeiro grande impulsionador das viagens de exploração marítima. Estendeu os limites do mundo e foi também o autor moral de uma das maiores transformações a que a humanidade assistiu.
Na Europa nada se sabia ao certo dos mares, nem das terras, nem das gentes. Antes dele, a dispersão, o isolamento. Depois dele, a descoberta mútua e o deslumbramento causado pela diversidade dos modos de vida e pela compreensão da unidade essencial do homem.
Foram dados os primeiros passos, os decisivos porque mais difíceis, para promover a união dos ramos separados e distantes da grande família humana. Pela primeira vez, a história tornou-se história universal.
São justas e devidas as palavras que Fernando Pessoa dedicou ao Príncipe do Mar:
O único imperador que tem, deveras, O globo mundo em sua mão.
Nada representa melhor esse mundo novo que amanhecia do que a estória das primeiras crianças nascidas nas ilhas atlânticas, os gémeos filhos de Gonçalo Aires Ferreira, servidor da Casa do Infante e um dos primeiros povoadores insulares.
Ao menino foi-lhe dado o nome de Adão e o de Eva à menina, como se aquelas crianças fossem os símbolos de um recomeço, de uma nova idade do homem na terra.
A nova idade em que todos os povos começavam a estar em contacto, partilhando ideias e valores, promovendo a troca de conhecimentos e de bens.
Sabemos hoje que o encontro de povos e de culturas oferece oportunidades sem fim. Mas também sabemos que esse encontro pode ser um confronto.
Uma cultura viva e fiel às suas origens, uma cultura que fomente a criatividade na ciência, na economia, na arte, na espiritualidade, faz desse encontro um impulso criador que dá forças para vencer.
De D. Duarte, o irmão do Infante que foi Rei, ouviram-se palavras avisadas no Leal Conselheiro:
“A barca firme e segura e forte e bem aparelhada, o estado das virtudes é, em que mui poucos perecem e podem navegar seguramente e passar sem perigo pelas ondas da tormenta deste mundo a porto seguro.”
Contra ventos e marés, sei que seremos capazes de arribar a porto seguro. Assim saibamos navegar e, como venho insistindo, tirar partido do mar.
Mas falta largar do cais. Falta, para ir mais além, ter de novo a visão e a capacidade para decidir dar os primeiros passos de um empreendimento secular.
Temos, de novo, de colocar o mar no nosso futuro, como do fundo do passado D. Henrique sonhou para todos nós, que habitámos estes 550 anos.
Celebremos o nosso Henrique Navegador, com o coração aparelhado para que se cumpra Portugal.”
Depois do momento das alocuções, o Presidente da República e convidados dirigiram-se ao Núcleo Museológico do Mercado de Escravos, para conhecer a exposição aí patente. Mais tarde Aníbal Cavaco Silva esteve no Centro Cultural de Lagos, onde visitou a Exposição Retratos do Infante Dom Henrique, patente até ao final do ano, e assistiu à ante-estreia da peça sinfónica “Suite das Descobertas”, cuja autoria é do compositor Armando Mota, tendo sido executada pela Orquestra do Algarve, sob a batuta do maestro Osvaldo Ferreira.
Recorde-se que a Celebração dos 550 Anos Sobre a Morte do Infante foi uma iniciativa conjunta da Associação de Municípios “Terras do Infante” (Aljezur – Lagos – Vila do Bispo) e do Município da Batalha.